Wednesday, August 30, 2006

lula lá, mas este e não aqueloutro

e o que experimentamos hoje nesse nosso arremedo de capitalismo senão uma nova escravidão? lula miranda.

mais lula a dar com o pau

Toda riqueza é ilícita, abjeta, vil, ilegítima, aviltante. Ou você, por acaso, é do tipo que acha que alguém enriquece como conseqüência do suor do trabalho? Talvez, e mais provável, esse alguém tenha enriquecido às custas do suor do seu, do meu trabalho, ou do trabalho do próximo. Quando alguém acumula riqueza, fortuna, um outro alguém certamente foi ou está sendo lesado. Decerto que a riqueza é sempre associada aos “eleitos”, à “gente boa”, à gente “de bem”, aos bons enfim. Porém, o rico, em verdade, deveria se envergonhar dessa sua condição.

Não é preciso citar Marx e sua mais-valia, ou mesmo Adorno: “Quem é rico ou fica rico percebe a si mesmo como alguém que realiza ‘com suas próprias forças’(...) O que vê o espírito objetivo: a predestinação irracional de uma sociedade que se mantém coesa através de uma desigualdade econômica brutal? É assim que o rico pode lançar na conta de sua bondade o que, entretanto, apenas atesta a ausência dela mesma. Ele mesmo se percebe e é percebido pelos outros como um homem realizado. (...) O homem injusto transforma-se regularmente no justo, e não por uma simples ilusão, mas sustentado pela onipotência da lei, mediante a qual a sociedade se reproduz”.

Sequer faz-se necessária a leitura de Leo Huberman e seu clássico A história da riqueza do homem. Não precisa nada disso, meu caro. A injustiça, a iniqüidade, É algo aviltante, “grita aos olhos”. Não precisa buscar respaldo em erudição alguma. Tá na cara.

Ah, meu prezado, não me venha com aquele “tatibitate” um tanto esnobe, típico tergiversar de ricos: “Mas qual o seu conceito de rico? Isso é relativo”. Relativo!? Num país como o nosso em que grande parte da população não tem onde condignamente repousar o esqueleto, sequer tem o que comer, e muitos se alimentam das sobras que catam no lixo, não resta margem para erros ou confusões. Rico é rico. Pobre é pobre (desculpe a pedagogia da obviedade). E entre estes se interpõe o pelego, aquele que suaviza o atrito e o conseqüente desgaste: a classe média.

Rico é o burguês. E burguês, para quem está mais habituado ao uso vulgar e quase sempre impróprio do termo, é o nome que se dá ao indivíduo pertencente àquela classe social que detém os meios de produção chamada de burguesia. Aquele pessoal que se originou lá nos burgos, lá num passado longínquo, com a derrocada do feudalismo. Tá se lembrando? Ricos são os grandes empresários, industriais e comerciantes, os donos do capital etc.

Então... Ricos são aqueles que têm mais carros na garagem de casa do que pessoas habilitadas a dirigi-los, mais imóveis do que os necessários a sua morada. Ricos são aqueles que no fim de semana não sabem se vão à casa de praia, à casa de campo ou se dão “uma passadinha” em Paris, Veneza, Miami ou New York (Bahamas hoje é coisa de “novo rico”, é brega). Ricos são aqueles que nunca, jamais limpam, limparam ou limparão o vaso do próprio sanitário. Ricos são aqueles que se fartam à mesa de restaurantes grã-finos e pagam contas bem maiores do que os salários que pagam aos seus empregados. Ricos são aqueles que moram bem e raramente adoecem, por que comem bem. E quando, fato raro, adoecem não precisam acordar de madrugada para disputar uma senha nas filas do SUS. Você já viu a quantidade de idosos (pobres, é claro) que esperam horas e horas nas quilométricas filas dos hospitais públicos em busca de atendimento médico? Coisa de cortar o coração. Mas por que se preocupar se, nas raríssimas vezes em que ficam doentes, os ricos, os “remediados” ou mesmo algum parente mais próximo destes, podem ir, de carro (ou de helicóptero ou avião), com todo conforto, ao Albert Einstein, ao Sírio Libanês, ou ao “Não sei o quê” Memorial Hospital?

Ricos, dizendo claramente, com todas as letras, são aqueles que se apropriam indevidamente da riqueza, acumulando-a, quer seja através da exploração do trabalho alheio quer seja por intermédio de favores dos governantes (prebendas, financiamentos a fundo perdido etc.), da corrupção, da contravenção, do tráfico de drogas. Lavando o dinheiro e limpando a consciência. Exagero meu? Ranço classista?
É a mais pura verdade, desde o início dos tempos! Aqui, na república de bananas, vem desde o tempo das capitanias hereditárias até hoje. Até hoje ainda pode-se encontrar felizes herdeiros de algum donatário por aí com terra a perder de vista. Por exemplo, eu mesmo, confesso, sou descendente (bem distante e, talvez por isso, empobrecido) de uma família “burguesa”. Branco, de olhos claros, descendente de senhores de engenho que tinham seu bom pedaço de terra e até alguns escravos. Quer ignomínia maior que a escravidão?

E o que experimentamos hoje nesse nosso arremedo de capitalismo senão uma nova escravidão? Ou você acha que pagar salário mínimo (o nosso salário mínimo!) a um empregado não é algo vil, não é uma escravidão disfarçada, legitimada, legalizada? Ou você ignora, ou finge não saber, que as favelas e os bairros periféricos são as novas senzalas? É tão difícil assim reconhecer isso? Um típico rico pensaria denotando certa indiferença: “Eles que fiquem com a miséria e a violência deles para lá”. Ah, meu caro, o primeiro passo para transformar essa realidade infame que vivemos é encará-la sem hipocrisia. Dar nome aos bois, sem eufemismo.

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico ingressar o reino de Deus”. Palavras atribuídas a Jesus Cristo – que era pobre. Figura de retórica perfeita! Simpática metáfora! Mas nem por isso, tantos anos/séculos d.C., os ricos deixaram de freqüentar igrejas. Nem por isso as igrejas deixaram de se unir aos poderosos para melhor governar. Um consórcio que vem dando muito certo ao longo da história. “A minha igreja é a dos pobres, dos desafortunados”. Quem disse isso? Ele, JC. Faço minhas as Suas palavras.

Num país como o nosso, com essa vergonhosa desigualdade social, com milhões e milhões de miseráveis, a riqueza ostentada pelo burguês é, sim, um acinte. Pois, então, ele que se cuide. Ele, burguês, que ande sempre em carros blindados, e devidamente cercado por parrudos e engravatados seguranças. Ele que aumente o muro das suas propriedades (de seus latifúndios, de suas casas e apartamentos nababescos) e cerquem-nas com cercas elétricas e farpadas. Como negar, como já disseram tantos pensadores, notadamente os anarquistas, que “toda propriedade é um roubo”. Ele, burguês, que se agarre aos seus privilégios enquanto pode, pois um dia (ah, esse dia há de chegar!) nós vamos ocupar suas mansões, nos fartar à sua mesa; nós vamos fazer compras em seus shoppings, nossas crianças vão também ter o direito de estudar nas boas escolas onde estudam seus filhos; nós vamos distribuir melhor a riqueza desse país!

toda riqueza é aviltante*, crônica do lula miranda, publicada na carta capital,a revista que isto é, para causa épocas, que vêem mais que os óia de ocasião.

*texto extraído do livro “balão de ensaios – poesia e engajamento”, já esgotado e aqui reeditado virtualmente(nota da carta capital)

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"A raça humana sempre me causou nojo. Intrinsecamente, o que torna tudo nojento é a morbidez do relacionamento familiar, o que abrange casamento, intercâmbio de pode e auxílio, e isso, feito ferida, uma lepra, transforma-se então: no vizinho de porta, na redondeza, no bairro, na cidade, no município, no estado, no país...em todo mundo, um agarrado ao cu do outro, na colméia da sobrevivência pela imbecilidade de um medo animalístico".

Charles Bukowski. O grande Casamento Zen Budista.