Sunday, September 24, 2006

palavras do senhor marquês

…. que vejo eu no deus deste culto infame senão um ser inconsequente e bárbaro, que hoje cria um mundo de cuja construção amanhã se arrepende ? que vejo eu nele senão um ser fraco, incapaz de fazer o homem dobrar-se para o lado que ele quer ? esta criatura, apesar da vinda dele, domina-o; pode ofendê-lo e por isso merecer suplícios eternos! que ser tão fraco é esse deus! então ele pôde criar tudo o que vemos e lhe é impossível formar um homem conforme a sua vontade ? mas, responder-me-eis, se o tivesse criado assim, o homem não teria mérito? que coisa insípida! que necessidade há que o homem tenha mérito diante de deus? se o tivesse formado totalmente bom, aquele jamais poderia praticar o mal e só então é que seria obra digna de deus. deixar ao homem a escolha é tentá-lo. ora, deus, pela sua presciência infinita sabia bem o que daí ia resultar. a partir desse momento, é portanto por prazer que condena à perdição a própria criatura que formou. que deus horrível, esse! que monstro, que celerado, tão digno do nosso ódio e da nossa implacável vingança! todavia, mal contente com tão sublime ação, afoga o homem para depois o converter: fá-lo arder, amaldiçoa-o. nada disto o modifica.


sade, in a filosofia na alcova ou os preceptores morais, nos anos 80, em edição da gama.

1 comment:

Alex Camilo said...

parece transmimento de pensação, mas eu separei esse trecho do divino marquês a um bom tempo para publicar na Estrovenga! rs. Não sei pq não publiquei, agora vou ter que procurar outra coisa de Sade pra publicar. Ei velho, tu já leu algo de um cara chamado Conde de Lautreamont? Contos d Maldoror, mais expecificamente?

Um abraço